segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Um pouco mais sobre Mola

Uma doença rara da placenta, definida na área médica como Mola, quando diagnosticada cedo, pode ser tratada sem maiores danos a saúde. No entanto, a falta de interesse governamental e a miséria nordestina, por exemplo, podem agravar a enfermidade e transformá-la em epidemia.
Fátima tem 24 anos e o sonho inadiável de ser mãe. Rosana tem 52 anos e quatro filhos que já são adultos. Bianca, de 16, namora com Éder há 8 meses e nem pensa em engravidar. O que une essas mulheres é o fato de terem engravidado e sido acometidas pela Doença Trofoblástica Gestacional, que acontece geralmente nos extremos da vida reprodutiva, ou seja, na adolescência e na maturidade.
A Mola Hidatiforme, como é popularmente chamada, é um tumor benigno que se desenvolve no início da gestação, a partir do tecido placentário, quando o embrião não se desenvolve normalmente. A Mola se assemelha a pequenos cachos de uva e é causada pela degeneração das vilosidades coriónicas (projeções minúsculas, semelhantes a dedos, existente na placenta). Apesar de a doença ser estudada desde os tempos helênicos de Hipócrates, o pai da medicina, a causa da degenerescência ainda é desconhecida.
Existem duas formas de apresentação da Mola, a parcial e a completa. Na completa o óvulo perde seus cromossomos (carga genética feminina), e é fecundado pelo espermatozóide (que contém a carga genética masculina), desenvolvendo somente a placenta. No segundo tipo da doença, a Mola parcial, o óvulo mantém os seus cromossomos, mas é fecundado por dois espermatozóides ou por apenas um, que carrega o dobro da carga genética, formando uma célula ovo com 69 cromossomos (ao invés dos 46 considerados normais) do qual resulta um feto anormal, que também não se desenvolve.
De acordo com o médico geneticista e ginecologista e professor Paulo Belfort, fundador, diretor e coordenador do Centro de Neoplasia Trofoblástica Gestacional da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro – RJ, que pesquisa a doença há mais de 30 anos, a Mola Parcial pode ser considerada mais simples do que a Completa, pois sua cura é costumeiramente mais rápida e eficaz.

Nem sempre a doença apresenta sintomas. Quando acontece, geralmente são perdas sanguíneas vaginais e enjôos matinais excessivos. Ela é diagnosticada através de suspeitas médicas quando a paciente faz os exames do pré-natal. Quando há presença de Mola, os níveis de bHCG (hormônio da gravidez) não condizem com o tempo de gestação, sendo sempre mais alto e a ecografia transvaginal (exame de imagem feito no primeiro trimestre de gestação)  mostra uma placenta disforme, as vezes em pedaços. Quando diagnosticado o aborto, se faz a curetagem, retirando todos os resíduos presentes no útero e logo se analisa o material coletado.
Segundo levantamento realizado recentemente pelo Centro de Pesquisa da Neoplasia Trofoblástica Gestacional do Rio Grande do Sul, na Maternidade Mário Totta, da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, a Mola se manifesta no Estado em uma a cada 850 mulheres. Nas regiões norte e nordeste do Brasil, o índice é de uma a cada 200 gestações. Em Porto Alegre são registrados de 80 a 90 casos por ano. Já o Professor Paulo Belfort, referência na doença no País, fala que a Mola é muito mais freqüente do que se imagina, acometendo um a cada 100 nascidos vivos. Belfort alerta também para a deficiência da saúde pública no Brasil, que ignora a gravidade da doença. “Em todo o país temos somente 19 centros para o tratamento da Mola. Essa doença pode ser considerada uma epidemia e necessita da atenção governamental. O Ministério da Saúde fecha os olhos para a enfermidade e até hoje não apresentou nenhum relatório onde regulamente o tratamento das doenças trofoblásticas pelo Sistema Único de Saúde (SUS)”, argumenta Belfort.
Apesar das inúmeras pesquisas empenhadas em descobrir a causa da Mola, nada se sabe sobre a origem da enfermidade. Há suspeitas de que aconteça em decorrência de baixos níveis de estrógenos (hormônio feminino) e da má alimentação, pois é mais freqüente em países em vias de desenvolvimento, como o Brasil, Índia e China.

Após a eliminação
Em 70 a 80% dos casos, após a eliminação da Mola, as pacientes evoluem bem, podendo ficar curadas sem necessitar de outros tratamentos. Entretanto, em cerca de 20 a 30% dos casos, a doença pode tornar a crescer, podendo até penetrar no músculo do próprio útero. Também pode se espalhar pelo resto do corpo, sendo os pulmões o primeiro foco de metástase. Isso pode acontecer quando a Mola sofre transformação maligna, constituindo um câncer da placenta, que apesar de requerer tratamento com quimioterapia, tem altas chances de cura.
De acordo com as médicas Elza Uberti e Maria do Carmo Diestel, coordenadoras do Centro de Pesquisa da Neoplasia Trofoblástica Gestacional do Rio Grande do Sul e que atendem pessoalmente as pacientes desde 1987, não existe uma prevenção primária para essa doença. “O que nós podemos fazer é identificar logo no início”, Afirma Elza. Nas pacientes em evolução não complicada, o acompanhamento costuma durar de oito a dez meses.

Conforme pesquisa concluída em 2002, feita pelo Comitê Internacional de Oncologia da FIGO, a Sociedade Internacional para o Estudo da Doença Trofoblástica (ISSTD) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), as mulheres que tenham tido uma mola hidatiforme numa gravidez não devem voltar a engravidar até que os seus níveis do hormônio gonadotrofina coriônica humana (bHCG) se mantenham normais durante pelo menos um ano. O estudo também aponta que uma em cada 75 gravidezes futuras corre o risco de ser novamente afetada.

A Mola Hidatiforme, como já foi dito, não tem prevenção. Indica-se às mulheres que realizem periodicamente os exames básicos ginecológicos e tomem conhecimento sobre as doenças femininas.

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